Home

Dois entusiastas pelo folclore da Madeira, o Senhor Jaime de Nóbrega e o Sr. João da Cruz, tomaram cada um a iniciativa de formar um Grupo Folclórico, reunindo jovens madeirenses dispostos a dançar e se apresentar em público. O interessante é que essa iniciativa, tomada em paralelo por estes senhores, resultou num encontro entre os dois grupos, que dessa forma pôde contar com oito casais de dançarinos.

Ensaiados pelo Sr. João da Cruz, que tocava, cantava e fazia a coreografia, utilizando-se da sua própria casa à Rua Paula Souza, o Grupo apresentava-se em quermesses, festas e em programas de Rádio e TV dirigidos à colônia portuguesa, tais como o Programa Caravela da Saudade. Numa dessas apresentações, no parque Ibirapuera, o Grupo foi premiado, valendo-lhe um reconhecimento público.

Com a projeção do Grupo Folclórico, tornou-se premente a necessidade de um local próprio para os ensaios e guarda dos instrumentos e roupas para as apresentações.

 Foi assim que em outubro de 1967, por iniciativa do Sr. Jaime de Nóbrega e do Sr. João da Cruz, apoiados por amigos tais como o Marcelinho, o Baratinha e o Teodoro, fundaram a Sociedade Amigos Casa da Madeira, e  deram início as apresentações regulares sob orientação  o Sr. João da Cruz , diretor de folclore e ensaiador.

 

Segue abaixo, um texto da citação do fundador do Grupo Folclórico, no livro:

"Presença Portuguesa em São Paulo"
(Autora:Sônia Maria de Freitas)

Capitulo 6: Os novos descobridores: memórias de imigrantes portugueses no século XXI

16. Jaime de Nóbrega

Jaime de Nóbrega nasceu em outubro de 1929, na Freguesia da Camacha, Funchal, Ilha da Madeira, em Portugal. Seus paiseram lavradores e a mãe exercia também a atividade de florista, vendendo para o mercado. Jaime cresceu e ajudou os pais até casar e vir para o Brasil em 1952, para onde já haviam emigrado dois de seus irmãos.

Com a esposa, Maria de Nóbrega, instalou-se com o irmão, proprietário de uma mercearia, na Av. Imirim. Trabalhou algum tempo com o irmaõ e depois comprou uma barraca de feira. Com muito esforço, após sete anos, abriu o seu próprio empório, também na Av. Imirim, onde reside até hoje.

A região onde se estabeleceu é um pólo de imigrantes portugueses e seus descendentes, pois osque já estavam aqui instalados chamavam parentes e amigos em Portugal e lhes davam apoio. Padre Constâncio sentiu a necessidade de consolidar a vida religiosa na região e começou uma campanha para construir a Igreja Nossa Senhora de Fátima, na altura do 1500 da Av. Imirim, ocasião em que envolveu toda a comunidade local - que, embora predominantemente composta de madeirenses, açorianos e portugueses do continente, contou também com a participação de italianos, japoneses e brasileiros.

Jaime colaborou ativamente nas festas e coletas de brindes, época em que, como apreciador e praticante das danças, das músicas e tradições madeirenses, sentiu a necessidade de criar um grupo folclórico para divulgar e manter os usos e costumes da Ilha. Fundou então, no dia 17 de outubro de 1967, o Grupo Folclórico Ilha da Madeira, que serviu de base para a criação, em 1969, da Sociedade Amigos da Ilha da Madeira. Mais tarde, devido a uma mudança de estatutos, a entidade passou a ser conhecida como é até hoje, Casa Ilha da Madeira de São Paulo.

O grupo folclórico de jaime fundiu-se com outro, que havia sido criado por João da Cruz (um dos presidentes da futura Casa ilha da Madeira), contando inicialmente com 40 integrantes e funcionando numa vila interna, na R. Mauá. A sede da Casa Ilha da Madeira ficava inicialmente no mesmo local do Grupo, porém, mais tarde, alugaram uma casa na R. Voluntários da Pátria. Lançando mãos de campanhas, bazares, apresentações do grupo folclórico e festas, conseguiram levantar, em dois anos, os fundos necessários para dar entrada na aquisição do imóvel de 1240 metros quadrados, num processo que se completou oito anos após, na gestão de César Rosa.

A Casa Ilha da Madeira, da qual Jaime de Nóbrega tornou-se o primeiro presidente, foi crescendo, contando com o patrocínio de madeirense bem-sucedidos. Atualmente, embora tenha um grande números de frequentadores, possui apenas 250 sócios, que contribuem com certa regularidade, dependendo, para equilíbrio de suas finanças, dos aluguéis dos salões e das atividades dos grupos folclóricos.

O ilhéu gosta muito de peixe: atum, espada preta, cavalinha e o bacalhau fresco preparado de várias formas. Os mais pobres na Ilha da Madeira comiam uma polenta feita com milho branco, couve bem picadinhas e favas, alé, de apreciarem a batata-doce e as semilhas [uma espécie de batata]. Preparavam também a sopa de trgio e um cozido madeirense, que leva espiga de milho, feijão verde, chuchu (pimpinela) e couve. Faziam o "bolo do caco", que é um pão parecido com o pão sírio, assado numa pedra. Muitas dessas comidas típicas são servidas nas festas na Casa Ilha da Madeira, quando também se prepara a espetada, um tipo de churrasco em que o espeto é feito de vara de louro (que impregna deliciosamente a carne) enquanto a manteiga vai derretendo por cima.

Jaime lamenta que no Brasil, como na Madeira, as tradições estão se perdendo, como a arte das rendeiras e das floristas, entre outras. Continua, no entretanto, trabalhando nessa obra que é seu orgulho e espera que todos possam vir a conhecer a Casa Ilha da Madeira.

----------------------------------------
Freitas, Sonia Maria. Presença Portuguesa em São Paulo, Imprensa Oficial: Memorial do Imigrante, 2006. p. 224-225.

In Memoriam - Jaime de Nóbrega faleceu em 2010.
O Grupo Folclórico Casa Ilha da Madeira presta as homenagens ao seu fundador.